quarta-feira, 6 de maio de 2009

Teus olhos entristecem...


Teus Olhos Entristecem



Teus olhos entristecem

Nem ouves o que digo.

Dormem, sonham esquecem...

Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste, Te disse tanta vez...

Creio que nunca o ouviste

De tão tua que és.

Olhas-me de repente

De um distante impreciso

Com um olhar ausente. Começas um sorriso.

Continuo a falar. Continuas ouvindo

O que estás a pensar, Já quase não sorrindo.

Até que neste ocioso

Sumir da tarde fútil,

Se esfolha silencioso

O teu sorriso inútil.



Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"